Friday, October 27, 2006

Acordou. Cansada como de costume, mas com entusiasmo diferente dos dias anteriores. Olhou o dia, lindo, cheio de luz e vida. Depois de dar um belo bom dia a sua cachorrinha, como de costume, espreguiçou-se e foi escovar os dentes, lavar o rosto e se preparar para mais um dia, hoje em especial, com o desejo de não ser mais um dia. Calma estava, vestindo o top, calça, tênis e meias. Separando a roupa de trabalho, shampoo, condicionador, sabonete, perfume, hidratante, toalha, calcinha...depois de tudo pronto e posto dentro de sua malinha matinal, tomou seus comprimidos, pegou a chave do carro e foi malhar.

Depois de longas horas de corrida, pesos e alongamentos, tomou seu banho naquele banheiro comunitário, mas bem arrumadinho e ajeitadinho, colocou sua roupa, penteou os cabelos para trás, passou seu perfume, se olhou no espelho, jogou sua cabeça para frente e para trás, soltando seus cabelos ainda encharcados do banho corrido. Se olhou mais uma vez, confiante, segura, com a certeza que neste dia, algo de bom lhe aconteceria. Sua intuição geralmente aguçada, lhe dizia. Pegou então a chave na mochila, seguiu em direção ao seu carro, com um sorriso entusiasmado, enfeitiçando todos que passavam por ela. Entrou no carro, colocou seus óculos escuros, ligou o som e saiu pelas ruas coloridas e iluminadas naquela manhã de verão.

Chegando no trabalho, com muito bom humor, falou com todas as pessoas, entrou em sua sala, sentou em seu computador e se programou para mais um dia de textos, revisões, e-mails, reuniões, decisões...seu telefone começou a tocar. Lembrou-se então que havia combinado de almoçar com seus irmãos. Atendeu ao telefone, era seu assistente um pouco atrapalhado, querendo orientação do nome da rua que ficava o restaurante combinado para fazer aquela matéria em especial. Afobado ele estava, por ter a oportunidade de ver com seus próprios olhos aquela gostosona que estava na mídia. Ela riu dele, o acalmou e deu as orientações necessárias para ele conseguir chegar no bendito local e fazer uma excelente reportagem que poderia lhe render a capa do mês. Desligou o telefone e voltou para a caixa de entradas do seu e-mail, leu e respondeu cada um, com toda calma e paciência. Olhou umas planilhas, prendeu seus cabelos que estavam lhe incomodando os olhos, abriu sua agenda e ficou alguns poucos e duradouros segundos olhando aquela fotografia, que lhe trazia tantas boas lembranças mas que deveria ser esquecida e guardada. Olhou o relógio, se assustou com a hora, já estava atrasada, tinha que conferir a prova de fotos da seção de moda e depois sair correndo para encontrar seus dois irmãos no restaurante que eles tanto gostavam e sempre se divertiam, mesmo que por pouco tempo devido a sua rotina corrida e atribulada.

Chegando no restaurante, seus irmãos já estavam lhe esperando, pareciam contentes e conversavam com muito entusiasmo. Quando eles a viram abriram um sorriso e se levantaram para abraçá-la, como sempre faziam. Ela se sentia imensamente feliz e segura com aquele abraço fraterno. Sentaram-se novamente e depois de algumas brincadeiras decidiram pelo prato de sempre. Riram do pedido nada inovador, mas se sentiam satisfeitos com a ótima escolha do menu. Sua irmã mais nova lhe deu o convite de sua formatura. Todos estavam muito felizes por mais uma conquista da família, a caçula estava se encaminhando, crescendo e amadurecendo. Por mais que essa notícia lhe causasse um certo frio na espinha e noção de como estava ficando velha, ela se sentia feliz pela conquista e crescimento da irmã. Seu irmão estava lindo, com a barba bem feita, vestindo um terno muito alinhado, contava sobre o quarto mês da primeira gravidez de sua esposa. Ela se sentiu em paz, como há muito tempo não se sentia, ali com seus irmãos tão queridos, sempre unidos, mesmo com as adversidades de rotina, diferentes hábitos e idade. Eles como sempre preocupados com sua vida corrida e sem tempo. Ela os acalmava e contava seus planos de uma viagem de descanso. Ainda não tinha se decidido para onde e nem o que fazer, sabia apenas que queria descansar, ver paisagens, correr, visitar museus, ir a teatros, enfim, algum lugar que conseguisse tirar dos seus pensamentos e sentimentos tudo que lhe afligia. Os dois irmãos sempre muito carinhosos, se acalmaram ouvindo seus planos e deram-lhe forças para ela não desistir como havia feito no ano anterior.

Voltando ao trabalho, ainda no carro, ligou o som, e ouviu aquela música que lhe causava certa nostalgia, principalmente depois de um almoço em família. Sentiu-se sozinha, distante, infeliz, mas seus sentimentos foram logo interrompidos pelo celular que começou a tocar e ocupar sua mente. Depois de longas horas de trabalho e ocupações ela viu que estava na hora de ir para casa. Estava se sentindo exausta, acabada, cansada. Pegou sua bolsa, tirou a chave do carro e foi embora, querendo apenas um bom banho e sua cama para descansar, esquecer e relaxar.

Chegando em casa, jogou a bolsa em cima da mesa, brincou com sua cachorrinha que era sua companheira de muitos anos, desde que saiu da casa dos seus pais, tomou um banho e foi se deitar. Com o pensamento já longe nas suas lembranças diárias pegou no sono. Seu telefone começou a apitar conseguindo acordá-la, deixando seus sonhos. Era uma mensagem. De quem? Pensou ela. Àquela hora, naquelas circunstâncias e depois de tanto tempo..não, não poderia ser.

Mensagem: Saudades...ainda te amo!

Ela então abraçou seu celular, sorrindo, sentiu-se feliz, confortável em sua cama, rodeada dos seus travesseiros e adormeceu, em paz.

Lise de Paula