Tuesday, October 31, 2006

Depois de tanto tempo. Tantos anos de espera, sofrimento, angústia, esperança. Ela sabia que aquilo aconteceria, mas não imaginava como o real seria diferente dos seus pensamentos e imaginação. Ele a esperava. Naquela mesma praia. Naquele mesmo bar. Ela ainda estava a caminho, ouvindo seu CD favorito. A música não era a mesma, talvez naquela época estivesse ouvindo o grande sucesso dos backstreet boys, ou quem sabe das spice girls, hoje está ouvindo Seu Jorge. Antes estaria nervosa com a sua aparência, se estaria gorda, magra, com o biquíni, short, óculos e sandálias da moda. Hoje sua preocupação era muito mais importante - o que aconteceria naquele tão esperado reencontro. Ela tinha mudado. Antes se sentia uma menina, experimentando e conhecendo a vida. Hoje, era uma mulher, segura, bonita, bem sucedida, confiante. Tinha sempre tudo sobre o controle. Aprendeu isso desde cedo, quando a vida lhe ensinou que nada era muito fácil, quando a vida lhe tirou o prazer de acreditar nas pessoas, quando a vida lhe mostrou o quão difícil é viver, amar e ser amado. Sua mente estava confusa. Pensamento entre o ontem e o hoje, entre a menina que fora um dia, alegre, e a mulher que se tornara, dura. Ela abriu a janela do carro e deixou o vento alcançar-lhe a face, respirou, sentiu o cheiro de uma época feliz que havia deixado para trás, há muitos anos. Ele ainda estava lá, sentado, esperando-a. Passava as mãos nos cabelos, loiros e ralos devido ao tempo. Esfregava suas mãos umas nas outras aliviando sua tensão. Consultava seu relógio de hora em hora. Já havia ligado umas três vezes certificando de que ela estaria a caminho, mas até agora, nada dela chegar.

Eles não se viam desde seu último encontro. Ela voltou ao tempo, num encontro confuso, onde nada ficou muito claro. Ele não esclareceu seus motivos, ela não explicitou seus sentimentos. Ele estava amedrontado e em dúvida. Ela estava segura, mas imensamente infeliz. Ela sabia que estava tomando a decisão certa sendo dura e escondendo suas vontades para com ele, depois de tudo que aconteceu, da maneira como foi usada. Ele estava envergonhado de sua atitude, e com medo de perder o amor de sua vida, mesmo já tendo outra em vista. Naquele dia, sentiram o mesmo amor, o mesmo desejo, a mesma vontade, mas sabiam que era o fim dos seus planos. Enfrentaram tantas dificuldades nos meses que passaram juntos, choraram, riram, brigaram, viviam felizes. Mas agora estava tudo diferente. Ele a deixou sem explicações. Ela, com orgulho ferido, tentou se mostrar forte, confiante. Ele tentou lhe beijar os lábios e lhe convidara para sair. Ela não entendendo a atitude dele, sentiu-se com raiva e vontade de quebrar-lhe a cara. Eles se despediram em um longo e nervoso abraço, e um singelo se cuida. E a partir daí, nunca mais se falaram e viram. O tempo foi passando, lentamente para ela, que o amava demais, tinha feito planos. Ele sentiu um pouco menos, por já ter um step a sua espera. Depois de longos anos, iriam novamente se encontrar. Naquela mesma praia, naquele mesmo bar, onde um dia, começaram e terminaram uma história.

Ela chegou. Estacionou o carro, por coincidência na mesma vaga que pararam um dia quando chegaram juntos ali. Ela sorriu. Olhou-se no espelho, pegou seu batom cor de boca, seu brilho e passou nos lábios, depois de se ajeitar e ficar com a aparência desejada, saiu do carro e seguiu em direção a seu destino. Ela o viu, parou e ficou esperando. Ele estava falando no celular. Andando de um lado para o outro, nervoso e sem atitude. Falava alto e tentava se acalmar num sorriso. Quando deu sua terceira volta na mesa, cruzou seu olhar com os dela. Ele desligou rapidamente. Fitou-lhe de cima em baixo. Ela estava linda. Com um vestido de praia, tecido mole, estampado em tom de vermelho. Suas pernas torneadas, bronzeadas e explícitas naquele mini - vestido. Seus cabelos longos, picotados num corte super moderno, que combinava com ela. Seu olhar amendoado, pequeno, sincero em conjunto com seu sorriso lindo, grande e branco. Ele seguiu em sua direção, com o olhar de uma criança feliz, sorriso apaixonado e braços abertos. Ela retribui seus gestos e foi andando em sua direção. O tempo parecia ter voltado. Ela se sentiu tonta, mas seguiu confiante. Os dois se encontraram e abraçaram por um longo e curto minuto. Ela tentou se afastar, mas ele a confortou em seus braços, fortes e velozes. Ela deixou ser confortada e abraçada. Em seguida ele puxou uma cadeira e a convidou para sentar. Ela sentou-se e ficou olhando aquele homem, que um dia foi seu menino e sorriu. Ele acariciou seu rosto e segurou suas mãos. Naquele momento, ela teve a certeza, de que com ele teria sido muito feliz, mas já se passara muito tempo. Ela não era mais a mesma. Eles conversaram, durante muito tempo. Pediram suas bebidas preferidas, comeram seus petiscos de sempre. Riram bastante como sempre faziam juntos e brincaram de suas brincadeiras. Depois de muito papo furado e diversão, ele acariciando seus cabelos, deixou explícito sua vontade de beijar-lhe os lábios, macios e corados. Ela tímida, mas segura, afastou-lhe de sua face e pediu um tempo para avaliar seus sentimentos. O tempo havia lhe modificado muito, e não tinha certeza se gostaria de reviver o que há tanto deixou para trás. Ela aprendeu a viver sozinha. Tinha decidido não amar mais alguém, dividir sua vida. Gostava de sua liberdade e estava habituada com sua solidão. Ela se fortificou assim e não se sentia segura perdendo as rédeas da situação. Ele sentiu-se decepcionado, triste, abaixou a cabeça e segurou as lágrimas que insistiam em molhar seus olhos. Ela olhou para ele, firme. Levantou sua cabeça segurando seu queixo, fez seus olhares se encontrarem. Ele tímido tentou desviar o olhar, mas ela o impediu com seu sorriso. Ela beijou-lhe o rosto. Ele entendeu. Sabia que deveria esperá-la assimilar e entender todos os sentimentos que lhe confundiam a mente. Entendia seus motivos e sabia o quanto havia a magoado no passado. Continuaram a conversar. Ficaram na praia até anoitecer, viram o por do sol, a chegada da lua, cheia, linda! Quando se despediram, ele a acompanhou ate seu carro lhe deu um longo abraço e um estalinho em seus lábios. Ela se sentiu feliz. Ele lhe olhou firme nos olhos e disse que não a deixaria escapar novamente como fizera outrora. Ela sorriu, ligou o carro e voltou para sua casa com a sua trilha sonora – Seu Jorge.

Lise de Paula